Não será novidade o facto de os mais altos representantes da igreja terem como ponto de referência nos seus discursos o apelo à tolerância. Como contaremos com a visita do Papa a Portugal, os nossos governantes querem ficar bem vistos ao mostrar que a lição está bem estudada, e então decretaram tolerância no dia 13 de Maio para todos os funcionários da administração pública. Ainda sobra alguma tolerância para a manhã de 14 de Maio dirigida aos funcionários do Porto. Os de Lisboa fazem a prova antecipada.
Há que ter discernimento porque esta não é uma tolerância qualquer, é a mais ansiada por todos os possíveis usufruidores da mesma - a fantástica Tolerância de Ponto. Neste caso, todos os funcionários da administração pública que pretendam ver a estragação de dinheiro que é feita em prol de um senhor que representa deus (nem quero imaginar se fosse o próprio deus, tinham um ano de tolerância de ponto, parava o país - se bem que para a estagnação não é preciso tanto, e as contas cada vez mais negativas), poderão fazê-lo sem comprometer as suas responsabilidades laborais (isto existe, ou pensam que é só para alguns?). Também poderão planear outras actividades, que serão certamente abençoadas. Um "serviço ao povo", que peca (vejam aqui o pecado) por ser reduzido, na medida em que haverá imensas pessoas que pretendem fazer peregrinações a pé, que muitas das vezes não são possíveis em tão curto espaço de tempo!
Já há quem diga que é difícil contabilizar os prejuízos e benefícios desta tolerância, principalmente porque os custos que acarreta ao estado têm como grandes oponentes o consumo para o qual estes funcionários estarão disponíveis, as repercussões psicológicas positivas de menos umas horas de trabalho, a bênção papal em proximidade.
Já estão a pensar decretar tolerância de ponto a 1 e 4 de Outubro?