sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Beijos? Não!

Considero que a gripe A tem sido muito positiva em alguns aspectos, principalmente no que respeita à higiene das mãos. Actualmente, grande parte das pessoas tem especial cuidado não só em ter as mãos lavadinhas e com um aspecto muito limpo, mas fundamentalmente em mantê-las desinfectadas. Nunca foi tão reduzido o risco de transmissão de microorganismos num simples apertar de mão, como é hoje.
Mas o facto mais importante, acontece com a chegada da época natalícia e da suspensão do tradicional beijo ao menino Jesus. Aquele beijo que se dá no pé de um bonequinho, que é beijado (ou mesmo babado) por muitas pessoas, com o mais variado tipo de doenças e com diferentes cuidados de higiene. Um pequeno gesto que mostra a grande característica que rege a igreja - a partilha - não só de um Deus, de uma fé, mas também de microorganismos (patogénicos ou não patogénicos).
Confesso que esta questão faz com que os traumas do passado aflorem à minha mente. Lembro-me da criança ingénua e crente que era, e em particular daquele dia em que me apercebi da quantidade de bocas que passavam pelo mesmo sítio onde eu teria que tocar com os meus lábios, sendo daqui que advém a minha tão forte repugnância por beijos. Foi há muitos anos, e o factor tempo e a não repetição da experiência permitiu que conseguisse ultrapassar esta situação traumática.
Não tive qualquer apoio psicológico nem posso processar quem teve a infeliz ideia de criar esta tradição, mas posso deste modo homenagear o H1N1, que assim previne que muitas crianças e jovens cristãos venham a sofrer de traumas tão difíceis, ou mesmo impossíveis, de ultrapassar.

6 comentários:

  1. Nem todos os beijos são beijos e beijar bonecos, então, só por chalaça!
    Também beijei meninos-jesus de barro (seria barro?)mas não fiquei traumatizado: continuo beijoqueiro.
    Como a visão, o ouvido, o gosto ou o olfacto e não posso desperdiçar o tacto, o beijo, que a todos engloba, é um autêntico órgão de conhecimento, de aprendizagem. É, recuso as novas oportunidades socretinas, mas acho que se aprende até à morrer.
    Abraço livre de H1N1 mas vá por mim, que vivi já muito tempo: na guerra e nas epidemias os mais medrosos, geralmente, morrem primeiro.

    ResponderEliminar
  2. Errata: no comentário acima, onde se lê morrer, faz muito mais sentido ler-se - morte.

    ResponderEliminar
  3. Quando li a seguinte passagem do livro "Apocalipse Nau", de Rui Zink, lembrei-me do comentário do Sr. professor: "Toda a gente gosta muito de usar palavras como «matar» ou «morrer» (de amor, de tédio, de prazer) pelo seu peso simbólico, pelo seu lado gráfico, mas não sabem do que falam. Quando sabem, só o sabem uma vez, e deixam logo de saber. É triste."

    ResponderEliminar
  4. Olhe que o seu comentário fez-me pensar. Realmente todos falamos de morte e de morrer (porque sim e porque não) mas como diz, não sabemos do que falamos e quando aprendemos, quando sabemos, deixamos mesmo logo de saber. Gosto imenso do que escreve... de qualquer maneira revela o que pensa e sente.
    Obrigado
    Post Scriptum: Se aquele Sr. professor é para mim, por favor, pode abandonar o formalismo que eu sinto-me muito mais à vontade sem ele.

    ResponderEliminar
  5. Caro Professor, se é para abandonar o formalismo só peço que em troca me trate por "tu".
    Quanto à morte, há que aprender a lidar com ela (a dos outros), a nossa, quanto mais tarde melhor (se vivermos dignamente).

    ResponderEliminar
  6. Nojo e risos rebentaram a ler o teu post. Tb já senti o mesmo, não pelo menino Jesus, porque nunca o beijei, mas em relação a pessoas chungosas e mal cheirosas, mas depois qdo quis beijar com vontade, nada desses traumas apareceram na hora H, o desejo e o bem-estar ganharam. :)

    ResponderEliminar